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sexta-feira, 31 de maio de 2019

Café Gaúcho e João Antônio

Não costumo ler ficção, com algumas raras exceções. Uma delas é a literatura do João Antônio, paulista que viveu seus últimos anos no Bairro Peixoto, Copacabana, cujos personagens eram malandros jogadores de sinuca, prostitutas, cafetões, alcoólotras, traficantes e demais figuras do submundo das duas pontas da ponte aérea.

João introduziu no Brasil o conto-reportagem, um tipo de texto que reúne a descrição de fatos jornalísticos com a beleza da literatura. Se estiver com tempo, dá uma lida no Um Dia no Cais.

Seu livro mais conhecido é Malagueta, Perus e Bacanaço, que retrata os três personagens que dão nome ao livro numa peregrinação madrugada adentro nas sinucas paulistas atrás de algum trouxa do qual pudessem arrancar algum dinheiro. Eventualmente os três param para tomar um café e comer uma sopa antes de continuar o périplo.

Uma das coisas que me chama a atenção na literatura do JA são as descrições dos bares, principalmente paulistas que, diferentemente dos cariocas, servem café coado ao longo de todo o dia, inclusive a noite. Ele sempre fala do tilintar das xícaras, o som das colheres misturando o café, os pires batendo no balcão e a fumaça da máquina que funciona enquanto o bar estiver aberto. 

Foto: André Paranhos
Por aqui, o lugar mais parecido é o Café Gaúcho, no centro da cidade, perto do Edifício Garagem. Funciona até as 21h e é possível vivenciar um pouco esse ambiente do tilintar das xícaras. Também é excelente para um chope e um sanduíche de carne assada, linguiça ou bife empanado, degustados no balcão, já que a casa não oferece mesas. 

Além dos salgados e outros petiscos, dá para comer coalhada seca, tradição esquecida mas que durante muito tempo foi uma opção fácil de achar no Rio, numa época em que as leiterias eram a última parada dos boêmios antes de voltar para casa, que comiam mingau para curar a ressaca depois de uma noite de bebedeira. Das dezenas de opções disponíveis no Centro só restou a Leiteria Mineira, um dia escrevo sobre ela.

A ilha do café fica separada do balcão principal, e é por ali que gosto de apoiar meu cotovelo enquanto degusto um cafezinho no final do dia.

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