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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Assai

Já fui estagiário da segunda maior rede varejista do mundo, primeira no Brasil. Durante o processo seletivo, fui ao Festival do Rio e assisti um documentário sobre o Wall Mart, que ocupa a primeira localização mundial e é a maior empregadora privada do planeta. Um verdadeiro monstro.

Você provavelmente não conhece as práticas do Wall Mart, especificamente nos Estados Unidos. Quando uma cidade recebe a notícia que a rede está planejando montar uma loja em seus domínios, toda a população se mobiliza contra. Entram na justiça, fazem manifestações nas ruas, acionam a mídia, fazem o possível para impedir que a Wall Mart abra uma de suas imensas lojas nos arredores do município. Mais de 100 cidades estadosunidenses já se mobilizaram, muitas ganharam, outras não.

Esse ódio todo se dá por vários motivos. Todos os processos da rede são montados para oferecer sempre os menores preços, com muitas conseqüências devastadoras. Já houve casos de mais de 50% do comércio local de um município, negócios familiares de várias gerações, fecharem porque não puderam competir em preços com esse gigante. Além disso, os empregos que oferecem aos cidadãos são péssimos, baixos salários, sem assistência médica, meio expediente, impedimento de abertura de sindicatos entre outros abusos. Ou seja, é um péssimo negócio para qualquer cidade.

Isso sem falar da falta de tratamento de resíduos, poluindo o meio ambiente, a comercialização de produtos fabricados por mão de obra infantil e semi-escrava em países do terceiro mundo (acredite, isso acontece mesmo), práticas desumanas com fornecedores, censura corporativa entre outras desgraças.

A rede chegou aqui no Brasil mas não provocou os mesmos danos, por alguns motivos, como alta taxa de sonegação fiscal, que permite que varejistas cobrem preços baixos, questões de trânsito e ocupação urbana que não vêem ao caso agora. Acho que até me alonguei demais para falar sobre a nova bandeira varejista e atacadista da Ilha do Governador: o Assai.

O Assai mistura varejo com atacado, você pode comprar das duas formas, e também possui um modelo que objetiva oferecer preços baixos em todos os produtos. Para isso, cobra pelos sacos plásticos, os caixas não possuem balança, não possui decoração atraente, não investe em publicidade e duvido que não adote práticas imorais, tal qual seus coirmãos. Digo imorais, não ilegais.

Falo de imoralidade e não ilegalidade porque algumas das práticas mais terríveis da humanidade foram feitas dentro da lei. A escravidão em vários países era legal, com todo um sistema que envolvia juízes, governantes e a sociedade em geral, permitindo que um ser humano possuísse outro. O holocausto nazista também era amparado pela lei.

Voltando ao Assai, a loja é muito simples, sem luxo, para oferecer preços baixos. Fui lá com minha digníssima para conferir. Na verdade, não é bem assim que funciona. Algumas coisas são realmente mais baratas (comprei cerveja e refrigerante por preços realmente baixos), outros possuem o mesmo preço que demais bandeiras (frutas e legumes) e alguns produtos são mais caros (papel higiênico).

Estamos destruindo o planeta. Práticas que objetivam sempre o menor preço ajudam a poluir o meio ambiente e enfraquecer a sociedade, pelos motivos já expostos. Não só no varejo, mas em toda a cadeia de valor. Assista ao vídeo abaixo, ele explica muita coisa. Tem 20 minutos, mas vai fazer você olhar para o mundo de outra forma.



Pois é. Os problemas mundiais são muito mais complexos do que parecem. Para que a cadeia seja circular, como a mostrada no vídeo, seja implementada, os custos de produção aumentaram. Mas como cobrar mais pelos produtos que a população recebe baixos salários?

Um excelente exemplo é o supermercado verde do Pão de Açúcar em Indaiatuba, São Paulo. Além de uma estação de reciclagem, possui placas informativas sobre hábitos que não agridem o meio ambiente, os carrinhos são feitos com PETs recicladas, comercializa produtos de produtores familiares e orgânicos, a madeira utilizada na construção é certificada entre muitas outras atitudes muito legais. Não estou fazendo propaganda do Pão de Açúcar em detrimento do Assai, até porque as duas bandeiras são do mesmo grupo. Estou apenas mostrando um outro lado do consumo que você provavelmente não conhecia.



Quer conhecer mais o supermercado verde? Então baixe este relatório.

Atualização: Estou disponibilizando o arquivo Torrente para você baixar o filme Wal Mart: o Custo Alto do Preço Baixo.

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