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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Nadando para não nadar ou de novo dezoito

Não lembro minha idade na época, mas era algo entre 5 e 10 anos. Tenho poucas lembranças do período, mas o caso que aqui irei relatar é indelével.

Não é novidade que sempre fui uma criança medrosa. Nunca gostei de me arriscar, ainda mais quando riscos físicos estavam envolvidos. Por algum motivo que talvez Freud explique, durante um bom tempo tive muito medo d'água, principalmente de praia. Enfim, minha mãe me matriculou numa escolinha de natação na ACM da Ribeira. Minha primeira (e única) aula foi traumática. Não queria entrar na água por nada, fiquei um bom tempo acocorado com a cabeça entre os joelhos e olhando para o chão. 

Tinha um exercício que consistia em ficar segurando a borda da piscina e bater as pernas. Tive um puta medo de acabar escorregando e morrer afogado. Só fiz o exercício com o instrutor segurando meus braços. Minha mãe, que observava tudo da varanda, não sabia onde enfiar a cabeça, tamanha a vergonha. Ao sair da aula, todas as outras crianças apontavam para mim e riam. As crianças são cruéis.

É claro que psicossomatizei tudo isso e fiquei doente, uma resposta do meu corpo e da minha mente contra uma possível nova humilhação.

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Iniciei recentemente o projeto pessoal de novo dezoito, no qual tentarei, através de práticas milenares, rejuvenescer e ficar parecido com o meu eu adolescente, só que sem a camisa do Che Guevara e sem deixar de beber Coca-Cola. A primeira etapa está sendo deixar os cabelos crescerem. O problema é a fase em que  fica completamente desgrenhado (na qual estou), me deixando com uma aparência desleixada.

A segunda etapa consiste numa mudança nos hábitos alimentares, iniciada semana passada. Mais salada e menos porcaria. Por conta disso, as postagens sobre pratos compostos por algum animal assassinado cruelmente, sem anestesia, apenas para satisfazer o apetite voraz de seres humanos que ainda não atingiram seu próximo estágio na evolução, diminuirão. Entretanto, contudo, todavia, este blog estenderá sua vida útil, já que pretendo viver mais alguns anos por conta este doloroso processo, apenas para sofrer por mais tempo nesta bola fedorenta chamada Terra.

A terceira e última etapa, mas a não menos sofrível, consiste na prática de algum exercício físico. Escolhi a natação, por isso esta postagem foi iniciada com aquele relato. Para tentar me manter motivado, fiz um plano anual na academia.

Cheio de motivação, saí a procura de uma sunga, vestuário que cobriu minhas vergonhas pela última vez no episódio narrado anteriormente. Claro que já fui à piscina e à praia depois disso, mas sempre usei bermudas. Me sinto pelado numa sunga, não gosto, tenho vergonha, mas como não tem outro jeito, fui às compras.

Durante o outono e inverno é impossível achar uma vestimenta adequada para prática de esportes aquáticos em lojas de departamento. Até em lojas de esportes a quantidade de modelos escasseia. Foi uma tarefa árdua encontrar uma que me agradasse, uma que fosse tipo boxer. Achei uma parecida numa loja de uma pequena confecção. Fui atendido por uma recepcionista gordinha, que, óbvio, me indicou uma sunga de tamanho inferior ao meu porte. Deveria ter confiado mais nos meus preconceitos que indicam que gordo é um bicho sem noção que sempre usa roupas com números inferiores só para se sentirem mais magros. Tarde demais.

Ainda estou conhecendo o etos da piscina, o modus operandi, a forma correta de se comportar e as regras não escritas dos freqüentadores. Se você, algum dia, for passar por experiência semelhante, aí vão algumas dicas para facilitar sua vida:


1. Para o sucesso da empreitada, aliste-se numa academia perto de casa. Isso diminuirá sua resistência em deixar de ir por causa da distância. Entretanto, uma nova desculpa será necessária para suas faltas.

2. Antes de sair do vestiário com a sunga, verifique se ela está cobrindo toda a parte traseira do seu corpo. No primeiro dia não tomei este cuidado e saí com metade da bunda para fora. Agora imagina a cena: sunga apertada, bunda cabeluda aparecendo, lordose, cara de cansado e cabelos desgrenhados! Arte e sensualidade personificada. Mesmo que eu fique sarado e gostoso depois de todo esse sacrifício, nenhuma mulher que tenha me visto em tal situação quererá me dar um dia.

3. Se o instrutor pedir para você ir para a raia do meio, não desça e escadinha e vá andando pelas outras raias até a sua. Você corre o risco de atrapalhar ou ser atropelado por um nadador mais experiente.

4. Não tente impressionar aquela gostosa saindo da piscina balançando a cabeça e jogando os cabelos para os lados, tal qual Rodrigo Santoro em As Panteras. Isso só é sensual nos filmes e em câmera lenta.

5. Só saia da piscina pela borda se for capacitado fisicamente para tal ato. Este é um exercício que exige força nos braços e, em caso de insucesso, você terá passado por uma situação extremamente constrangedora desnecessariamente. Também não emita sons guturais que denotem excessivo dispêndio de energia ao se levantar, as pessoas te olharão com expressões de espanto.

6. Ao tomar uma chuveirada antes de ir para casa, não grite como uma menina por causa da água gelada, em contraste à água aquecida da piscina. Sua masculinidade pode ser questionada pelas demais pessoas do ambiente.

Espero ter ajudado. Em breve, relatarei meu progresso nas aulas.

3 comentários:

  1. Adoreeeei o relato!!! Aguardamos o novo Xuxa! =D

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  2. A cena da meia-bunda cabeluda deve lhe render o Oscar, ou o Mico do Ano !

    Natação é coisa de quem bóia, vamo pedalar !! Pra´emagrecer tem que suar, como vc vai suar com aquela piscina cheia dágua ? me diga ?? o que os olhos não vêm o coração não sente.

    Vc tem coisa demais na cabeça para ficar contando borda de piscina uma hora, duas até..vai enlouquecer contando azulejos !! 

    VLW !! 

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  3. Não sua? É muito ruim, é só sair da piscina que o suor começa a pingar.

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