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domingo, 19 de maio de 2013

Maniqueísmo e respeito ao próximo

Atualização: recebi resposta da prefeitura com relação a denúncia que fiz contra a Casa Clipper. Segundo a prefeitura, o estabelecimento foi multado e tem até 60 dias para retirar a grade que colocou em volta da praça.

Acho pouco. Eles deveria também colocar de volta os dois bancos que quebraram ao privatizar o espaço público. De qualquer forma, vou acompanhar para ver se a grade vai ser retirada mesmo.

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Pode ser apenas impressão minha, mas acho o mundo maniqueísta demais. Sei que meus leitores não precisam de explicação, mas isso significa que as pessoas posicionam suas opiniões de forma radical em apenas duas opções, como o bem e o mal, preto e branco, bola ou búlica. Não conseguem perceber ou aceitar as milhões de tonalidades de cinza e o resto da palheta inteira de cores.

Ninguém é bom ou ruim o tempo inteiro. Hitler, por exemplo, que mandou matar milhões de pessoas, era extremante adorável e gentil com suas secretárias e com as famílias alemãs. Era querido e admirado por muita gente, considerado um exemplo a ser seguido. Da mesma forma que torturadores a comando de ditaduras, que passavam o dia espancando estudantes e até cometendo assassinatos, tratavam muito bem seus filhos, levando-os para passear no parque nos finais de semana além de serem considerados vizinhos tranquilos e respeitosos.

Me considero uma pessoa boa, pelo menos na maior parte do tempo. Mas como todo ser humano, não sou perfeito e cometo pecados diariamente. Já fui maledicente com amigos, já desejei mal a terceiros, já cobicei mulheres enquanto estava comprometido e já fui egoísta. Também já condenei muita gente por ter ser comportado da mesma forma que eu. Entretanto, acumulo mais comportamentos positivos do que negativos. Acredito que o que diferencia uma pessoa boa da ruim é o lado para qual pende o fiel desta balança.

Hamlet tem uma frase muito boa. Quando ele está recebendo os atores em seu castelo, pede para o criado cuidar muito bem dos hóspedes. O criado, então, responde que todos serão tradados como merecem. Hamlet retruca:

- Não, trate-os melhor! Se todos fossem tratados como merecem, ninguém escaparia do chicote.

É isso, todos nós carregamos pequenos delitos condenáveis nos tribunais, sejam eles de justiça, moral ou ético. O que nos diferencia dos psicopatas é que o crime destes envolvem assassinatos em massa, estupro, sequestros e demais atos hediondos. Nós, que estamos dentro da curva, no desvio padrão do comportamento social, apenas falamos mal de amigos pelas costas e negamos ajuda a um necessitado.

Na vida, dois mais dois na maioria das vezes não são quatro. São cinco, dez, vinte. Às vezes pode ser a porra toda e o nada ao mesmo tempo. Este é graça. É a incerteza, é o caos que torna nosso dia-a-dia nesta bola gigante tão interessante, e, na boa, sou apaixonado por isso.

O maniqueísmo no ativismo social

Sou cicloativista. Participo de manifestações, grupos de discussão, sou voluntário que auxilia outras pessoas que querem começar a utilizar a bicicleta como meio de transporte. Mas minha luta não é ciclistas versus motoristas, como a imprensa faz parecer que é e como meus amigos acreditam que seja. Os argumentos apresentados são maniqueístas, mas como expliquei acima, as coisas não são tão simples. Nem todo ciclista é bonzinho e preocupado com o meio ambiente e nem todo motorista é cruel e assassino. Nem todo o ciclista desrespeita as Leis de trânsito, tal qual os motoristas. O meio de transporte que alguém escolheu para se locomover não define caráter, existem pessoas boas e ruins (na maior parte do tempo) segurando guidões e volantes.

Assim sendo, minha luta é por respeito. Estamos num momento de individualismo, no qual ninguém respeita ninguém. As pessoas estão preocupadas apenas com o próprio umbigo, a vida em comunidade perdeu completamente o sentido. Isso cria um ambiente selvagem, que gera muito estresse e ansiedade nas pessoas, depressão, infelicidade e mortes.

Acredito que o objetivo da vida deve ser a felicidade, e o individualismo gera o contrário, conforme já expliquei nesta postagem.

Individualismo e desrespeito ao próximo

Para ver o quanto as pessoas não estão nem aí para os outros, é só andar pelas ruas.

Carro bloqueando a calçada na Rua Cambaúba

Mais um exemplo: a Casa Clipper cercou um pedaço da pracinha e colocou mesas para servir seus clientes. Agora eu pergunto: quem autorizou? Essa apropriação do espaço público foi feita dentro da legalidade ou não? Mesmo que tenha sido legal, do ponto de vista moral é correto fazer isso?



De qualquer forma, enviei uma denúncia para a prefeitura. Depois atualizo a postagem com o a resposta.

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