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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Planejamento urbano

Uma amiga comprou um apartamento caríssimo na Cambaúba. As paredes internas foram feitas com drywall e era possível ouvir até os sussurros dos vizinhos. Ela teve que entrar com um processo contra a construtora, pedindo a troca do material para que ela pudesse, enfim, desfrutar da privacidade que uma família precisa ter no lar.

A lição deste acontecimento é que o design, a forma como as coisas são projetadas e construídas, podem evitar conflitos entre as pessoas. Essa briga judicial poderia não ter acontecido se o prédio tivesse sido planejado visando o bem estar de seus habitantes, e não apenas o lucro ao utilizar itens mais baratos.

O mesmo acontece com as cidades. Quando há um planejamento urbano eficiente, que leva em consideração todos aqueles que fazem uso dos espaços públicos, as brigas e desentendimento entre os munícipes são amenizadas.

Porque este é mais curto
Uma antiga história (chinesa, se não me engano) fala de um imperador que queria construir calçadas numa cidade. Antes de construi-las, mandou plantar grama no local. Só depois de algum tempo, vendo onde a grama estava gasta, indicando os caminhos utilizados com mais frequência, a obra foi iniciada. Infelizmente esta lógica não é aplica no planejamento urbano brasileiro, que atualmente tem como prioridade a circulação de carros.

Exemplos:

Dando como desculpa a segurança, a prefeitura está tentando conduzir o tráfego de pedestres na cidade cercando algumas vias com grades, fazendo com que as pessoas (que não possuem motor) fiquem com o ônus dos deslocamentos mais longos. Alguns, obviamente, rompem as grades e continuam atravessando nos trechos mais curtos.


A foto acima foi tirada em frente ao Into (Instituto Nacinal de Traumatologia e Ortopedia). É um hospital que tem a maioria dos atendimentos oriunda de pessoas com problemas de locomoção, que usam cadeiras de rodas, muletas ou estão engessadas. O tamanho da passarela que essas pessoas precisam cruzar  é absurdo. Muitas faixas foram espalhadas com mensagens do tipo "pedestre atravesse pela passarela" e "sua segurança em primeiro lugar", além das já tradicionais grades.

Muitas pessoas simplesmente não respeitam os avisos e as cercas (eu também não respeitaria), e se arriscam entre os carros porque é inacreditável ter percorrer 200 metros para atravessar uma avenida, subindo e descendo por uma passarela. Claro que além do risco de acidentes, os motoristas xingam os pedestres e vice-versa, gerando um conflito e estresse que poderia ser evitado com um design inteligente.

Cidades evoluídas contratam antropólogos para ajudar no planejamento. Eles vão para as ruas, praças, parques, observam como se dá o uso dos espaços públicos para depois, junto com designers, arquitetos e a população, sejam apresentadas propostas de intervenção.

Não estou aqui para propor soluções, esta é uma questão que deve ser debatida por todos os usuários do espaço, mas que não pode continuar desse jeito, isso não pode. Mas sabemos muito bem quais são os interesses que a prefeitura representa, não são os meus nem os seus, a não ser que você seja um empreiteiro ou dono de empresa de ônibus.

Para finalizar, um exemplo da China:









Para chegar ao outro lado da grade, as pessoas passam pelo bueiro. Lindo! Sempre encontraremos um caminho.


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