Páginas

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Guia Insulano de Gastronomia de Rua

Quando comecei este blog, em janeiro de 2008, o objetivo primordial era comentar sobre coisas da Ilha, principalmente botequins. O título da página era Guia Alternativo da Ilha do Governador, só com o off da programação insulana. Com o passar do tempo outras coisas foram acrescentadas, mas a essência continua a mesma.

Estimulado pelo lançamento do Guia Carioca de Gastronomia de Rua, vou fazer a versão insulana da publicação, revisitando o melhor do que é servido nas ruas do bairro.

Cabe minha definição de comida de rua: aquela que não possui seu processo produtivo restrito à um imóvel, podendo ser deslocado para qualquer logradouro com facilidade. São exemplos as carrocinhas (cachorro quente, churros, tapioca) e barracas montadas diretamente nas ruas.

Já selecionei alguns e estou aceitando sugestões:

Acarajé da Baina Rose, perto do Supermercado Assaí (tecnicamente não é de rua, mas como a Rose passou muito tempo nesta condição, vou considerar)
Caldos da Feirinha da Colinha
Sushi da feira da Ribeira
Yakissoba da feirinha do Extra

Croquete de Camarão da feira do Cacuia
Infelizmente essa é uma cultura combatida pelo poder público e pelas classes abastardas da cidade. Essas pessoas, principalmente depois da chegada da Família Real, sempre mostraram sua vontade em transformar o Rio em uma cidade típica européia, inclusive no vestuário, nitidamente incompatível com o clima brasileiro, e na arquitetura, vista na grande quantidade de prédios que reproduzem construções européias (o Theatro Municipal, o Petit Trianon, a sede social do Clube Naval entre outros).

Essa transformação é, muitas das vezes, feita de forma brusca, com muita violência e deslocamento de comunidades inteiras sem o menor suporte para os desalojados. Exemplos clássicos são a construção da Avenida Central (atual Rio Branco) e Avenida Presidente Vargas. 

O prefeito Pereira Passos, no início do século XX, criou a operação Bota Abaixo, demolindo cortiços, exterminando ratos e mosquitos e vacinando à força cidadãos contra a varíola. O resultado foi a Revolta da Vacina, que transformou a cidade, então restrita ao que hoje é o Centro, num verdadeiro campo de batalha, com lojas depredadas, barricadas nas ruas, mobiliário público e bondes destruídos, tiroteios e aproximadamente 50 mortos.

Lembrando também a remoção do Mangue, antiga área de prostituição localizada onde hoje está o Centro de Convenções Sulamérica. As prostitutas desalojadas compraram um galpão com o dinheiro da indenização e criaram nossa querida Vila Mimosa. O mais banana nesta história é que o prédio da prefeitura, que foi construído na área do antigo Mangue, foi apelidade pela população de Piranhão, referência à principal atividade econômica antes exercidada na região.

O problema não é o combate à epidemias e a realização de melhorias para a cidade. O problema é como esse processe tem sido feito historicamente, na base da violência e sem propor alternativas para a população. Sem dúvida, grandes avanços foram feitos, mas o pagamento por isso foi o sofrimento e morte do lado mais fraco. 


Agora, o prefeito Eduardo Paes retomou essa ideologia com a Operação Choque de Ordem. Um amigo voltou recentemente da Europa e contou que nas ruas não existem ambulantes vendendo comida como aqui. O máximo que acontece são trailers ao redor de estádios esportivos em dias de competição ou concertos musicais. E é assim que parte da população quer o Rio, e partiram para ofensiva derrubando barracas com tratores, batendo em ambulantes e roubando suas mercadorias. Os guardas municipais me lembram os antigos torturadores da ditadura, que iam para casa brincar com seus filhos e levar a família para almoçar fora depois de sessões de espancamentos em jovens e mulheres.

Por isso, a venda de alimentos nas ruas está constantemente ameaçada. Precisamos contra-atacar, mostrando o valor cultural que essa prática possui e, que ao contrário de uma minoria detendora do poder econômico e político, não queremos que o Rio se transforme numa filial de Paris.

Nenhum comentário:

Postar um comentário